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10 novas indicações de filmes e seriados com reflexões sobre a área médica

Publicado em: 24 de outubro de 2021

ANGELS IN AMERICA (2003, minissérie)
Produzida pela HBO e considerada um marco da TV norte-americana, a minissérie “Angels in America” é uma bela maneira de compreender os primeiros anos da epidemia da AIDS nos Estados Unidos. O enfoque não é médico, mas sim social: na minissérie, acompanhamos diferentes histórias de pessoas que, de um jeito ou de outro, lidam com a descoberta ou a repressão da homossexualidade sob a luz dessa doença que se alastrou nos anos 1980 e fez muitas vítimas. Em seis episódios, o diretor Mike Nichols reúne um elenco de peso (Meryl Streep, Al Pacino, Emma Thompson) para adaptar a peça homônima de Tony Kushner. Vale lembrar, no entanto, que “Angels in America” é uma produção que foge das obviedades para apresentar um roteiro mais experimental e com reflexões culturais, morais e políticas, entregando uma experiência bem diferente do que estamos acostumados a ver em séries e minisséries.

PELA VIDA DO MEU FILHO (1997)
Uma das atrizes mais respeitadas e premiadas em atividade, Meryl Streep interpreta Lori Reimuller em “Pela Vida do Meu Filho”. Nesta história, Lori descobre que seu filho mais novo tem epilepsia e resolve investir em um tratamento médico convencional para tentar controlar as crises do menino. À medida que a saúde do jovem Robbie começa a piorar, ela começa a desconfiar da eficiência do hospital e dos médicos, e passa a se sentir frustrada. Para mudar essa situação, Lori resolve tentar um tratamento alternativo: a dieta cetogênica, que é imediatamente proibida pelo médico de Robbie. Desesperada, ela escolhe depositar todas as esperanças em um método ainda pouco conhecido. “Pela Vida do Meu Filho” aborda ainda as dificuldades financeiras, a saúde pública e o estado emocional da família e dos outros dois filhos frente a todos os cuidados que a epilepsia impõe a um convívio. É uma bonita história sobre o amor materno e sobre as complexidades e os temores que envolvem a busca por novos tipos de tratamento.

O ÓLEO DE LORENZO (1992)
Para fazer dupla com “Pela Vida do Meu Filho”, o drama “O Óleo de Lorenzo” mostra a destemida decisão de uma família em encontrar tratamentos alternativos para a doença de seu filho. Lançado em 1992 e baseado em uma história real, “O Óleo de Lorenzo” acompanha a família Odone quando o filho Lorenzo, de apenas seis anos, é diagnosticado com adrenoleucodistrofia, uma doença degenerativa, rara e incurável, provocada pelo acúmulo de gorduras saturadas. Após o diagnóstico, os pais Michaela (Susan Sarandon) e Augusto (Nicki Nolte) não aceitam o fato de que, em pouco tempo e com tanto sofrimento, perderão o filho. Eles decidem, então, estudar e pesquisar por conta própria, na esperança de descobrir algo que pudesse deter o avanço da doença. Michael e Augusto acabam desenvolvendo um óleo que não se tornou a cura, mas tornava mais lenta a evolução da doença. É um excelente filme para refletirmos sobre a importância do constante investimento em pesquisas, a busca constante por conhecimento e a dificuldade na autorização do uso de medicamentos.

KINSEY – VAMOS FALAR SOBRE SEXO (2004)
Em 1948, o biólogo Albert Kinsey abalou a conservadora sociedade norte-americana ao lançar o livro “Sexual Behavior in the Human Male”, que trazia uma ampla pesquisa com diferentes dados e estatísticas sobre o comportamento sexual de milhares de pessoas. A obra, inicialmente alvo de polêmicas e descréditos, logo se tornou fundamental para os estudos no campo da sexologia, área até então pouquíssimo abordada na medicina. É a partir das pesquisas de Kinsey e dos desdobramentos trazidos pelo lançamento de seu livro que o filme “Kinsey – Vamos Falar de Sexo” discute vários aspectos sociais e morais sobre o tema da sexualidade. Entre as questões levantadas pelo biólogo, estava, por exemplo, a forma conservadora e limitada com que os próprios jovens eram educados pelos pais e pela sociedade sobre relações sexuais. Para a realização deste filme, o diretor e roteirista Bill Condon realizou uma série de entrevistas com vários colegas de Alfred Kinsey não só para ser fiel à sua história, mas também para explorar em detalhes um dos pontos mais interessantes do longa: a personalidade questionadora de um homem moderno, à frente do seu tempo e que deixou uma imensa contribuição para um campo ainda a ser descoberto.

A VIDA IMORTAL DE HENRIETTA LACKS (2017)
Aborda a surpreendente história envolvendo todos os avanços médicos feitos a partir da morte da personagem-título, que faleceu em 1951 vítima de câncer, mas cujas células, que continham características únicas, continuaram vivas e foram usadas para desenvolver terapias para combater a poliomielite, o câncer e a AIDS. O inacreditável é que a identidade de Henrietta foi ocultada durante décadas, e os familiares sequer foram informados sobre a coleta de amostras dos tecidos do tumor em seu colo uterino. E, claro, os laboratórios farmacêuticos nunca lhes deram uma compensação pelos avanços que revolucionaram a medicina. Em 2010, a jornalista Rebecca Skloot publicou o livro homônimo que deu origem ao filme, intercalando a história pessoal de Henrietta com a da propria ciência, apoiada na questão jurídica que envolveu a disputa pelas células, um debate que ainda hoje gera polêmica.

O ESCAFANDRO E A BORBOLETA (2007)
Trata da história verídica de Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric), editor da revista Elle que, aos 43 anos, sofre um derrame. Vinte dias depois, ele acorda e descobre que sofre da Síndrome do Encarceramento (locked-in syndrome), uma rara paralisia que preservou sua lucidez, mas que deixou apenas o olho esquerdo do seu corpo em movimento. A situação é inimaginável, e “O Escafandro e a Borboleta” se concentra no momento em que Jean-Dominique aprende a se comunicar piscando as letras do alfabeto. Quando começa a formar palavras, frases e até parágrafos, ele decide escrever um livro, contando com aquilo que não se paralisou: sua imaginação e sua memória. É um belo filme que levanta importantes questões sobre como todo paciente merece sempre ser tratado com dignidade e humanidade, mesmo em circunstâncias tão impensáveis.

SICKO – S.O.S. SAÚDE (2007)
No documentário “Sicko – S.O.S Saúde”, o premiado documentarista Michael Moore analisa as crises do sistema de saúde americano e observa por que milhões de americanos continuam sem seguro saúde adequado para os mais diferentes tipos de tratamentos e assistência médica. Recomendo esse filme para quem estuda ou trabalha com Medicina porque ele traz a perspectiva do outro lado do balcão, explorando como funciona o acesso dos norte-americanos a um sistema de saúde, que, apesar dos avanços tecnológicos e do pioneirismo em tantas áreas, também precisa, como muitos outros ao redor do mundo, evoluir em aspectos fundamentais. O documentário é uma ótima dica porque descortina de forma detalhada o funcionamento do sistema de saúde dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que dá voz a uma série de pacientes que depende ou já precisou utilizar os serviços médicos oferecidos pelos hospitais do país.

NISE – O CORAÇÃO DA LOUCURA (2015)
Lançado em 2016, o longa de Roberto Berliner traz Glória Pires na história verídica da dra. Nise da Silveira. Ao voltar a trabalhar em um hospital psiquiátrico no subúrbio do Rio de Janeiro dos anos 1940 e 1950, Nise propõe uma nova forma de tratamento aos pacientes que sofrem da esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e lobotomia. Seus colegas de trabalho discordam do meio de tratamento e a isolam, restando a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde dá início a uma nova forma de lidar com os pacientes, através do amor e da arte. Além de ser a inspiradora história de uma mulher que revolucionou os tratamentos psiquiátricos em muitas frentes, o filme levanta excelentes questionamentos sobre experimentações científicas e investigações políticas que conseguem mudar os rumos da medicina através dos tempos. Também é um excelente retrato da precariedade com que os sistemas tratavam seus pacientes, normalmente encontrados por Nise em situações sub-humanas e insalubres, presos como animais.

MASTERS OF SEX (2013, 4 temporadas)
Exibida de 2013 a 2016 pelo canal Showtime Networks, “Masters of Sex” dramatiza os estudos pioneiros da dupla William Masters (Michael Sheen) e Virginia Johnson (Lizzy Caplan), profissionais que desvendaram para os Estados Unidos e para o mundo a ciência por trás do comportamento sexual humano. Encenada na década de 1950, a série intercala as pesquisas revolucionárias da dupla em um campo desconhecido e repleto de tabus com a trajetória profissional e pessoal de cada um dos pesquisadores. Por ter uma narrativa mais extensa, é uma série que observa o trabalho médico de forma mais íntima, ampla e curiosa, mesmo que tenha suas liberdades dramáticas.

DIAGNÓSTICO (2019, 1 temporada)
Inspirada na coluna mensal que, desde 2002, a clínica geral Lisa Sanders escreve para a revista do jornal The New York Times, a série “Diagnóstico” é a minha dica deste mês para vocês. São sete episódios com aproximadamente uma hora de duração cada onde a dra. Lisa busca diagnósticos para doenças misteriosas. A série, que está disponível para ser assistida na Netflix, é muito interessante porque nos aproxima de uma profissional com vasta experiência na prática do diagnóstico. Antes da série, a dra Lisa já havia sido consultora da série “House” e escrito o livro “Todo Paciente Tem Uma História para Contar”, que eu já recomendei aqui na página para vocês. Além disso, ela é professora da Yale School of Medicine. Ou seja, tem muito a compartilhar! Entre paralisias, desmaios, paradas cardíacas, problemas de memória, dores musculares e convulsões, ela lida com diversos pacientes na série, de crianças a adultos, sempre exercitando a escuta e o diálogo para tentar compreender aqueles que estão em busca de ajuda médica.